Amazônia: Pesquisadores transformam resíduos em 'plástico verde'

 

O objetivo do projeto é criar um produto que possa substituir o plástico tradicional, derivado de petróleo, por uma alternativa mais ecológica e com características da Amazônia. Foto: Vecteezy.

Por Luciana Bezerra

Uma ideia que nasceu no coração da Amazônia pode ser a chave para reduzir o uso de plástico em embalagens, móveis e até na construção civil. Pesquisadores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), no município de Itacoatiara, a 176 quilômetros de Manaus, no Amazonas, desenvolveram um biocompósito — uma espécie de “plástico verde” — usando o que a floresta oferece de sobra: resíduos de açaí, abacaxi, madeira e fungos.

O ConectaEco conversou com a professora Lais Gonçalves da Costa Brocco, doutora em Ciências Florestais e coordenadora do projeto, da UEA, para entender melhor os objetivos e os próximos passos da pesquisa.

Protótipo da placa de fibra vegetal e resina biodegradável. Fotos: Divulgação/Acervo Lais Brocco.


De acordo com Laís, o estudo que durou 18 meses combinou fibras vegetais com fungos capazes de transformar matéria orgânica em um material resistente, biodegradável e com potencial para aplicações comerciais.

“Durante a produção dos biocompósitos, observamos que o substrato com 100% de resíduos fibrosos do abacaxi e misturado com cogumelo-ostra (Pleurotus ostreatus), desenvolveu-se de forma satisfatória, sendo possível obter um biocompósito com boa agregação e mais homogêneo”, explicou Lais.

O trabalho também testou misturas de açaí e abacaxi e avaliou o desempenho dos biocompósitos em testes de resistência e absorção de água. O resultado? Materiais promissores, com alta durabilidade e menor impacto ambiental.

A novidade, pode  que pode substituir o plástico em móveis, embalagens, dentre outros produtos.

Além de evitar o descarte de resíduos agroflorestais, o projeto também mira no futuro: criar um produto que possa substituir o plástico tradicional, derivado de petróleo, por uma alternativa mais ecológica e com a cara da Amazônia.

“Essa pesquisa mostrou o quanto os resíduos da floresta ainda são pouco aproveitados. Conhecemos o potencial de transformação desses materiais e como eles podem gerar valor ambiental, social e econômico”, disse a pesquisadora.

Laís adiantou que no momento, a pesquisa está parada devido à falta de apoio financeiro das agências de fomento. No entanto, ela ressalta que, com recursos adequados, seria possível expandir o estudo, investigando novos tipos de substratos e espécies de fungos, o que poderia ampliar ainda mais as aplicações e o potencial dos biocompósitos sustentáveis desenvolvidos a partir de resíduos amazônicos.

Sobre a pesquisa

O estudo contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), por meio do programa Profix-RH (Edital nº 009/2021), que tem como objetivo fixar mestres e doutores no interior do estado por meio de projetos científicos com impacto regional.

“A Fapeam desempenhou um papel fundamental na viabilização do projeto. Além do suporte financeiro, a Fundação contribui diretamente para a disseminação do conhecimento científico, incentivando a inovação e o desenvolvimento sustentável na região amazônica”, destacou Lais Brocco.

A pesquisa aponta caminhos para a criação de materiais alternativos ao plástico, com base na biodiversidade e nos saberes da região. Um passo importante para a bioeconomia e para uma Amazônia que pesquisa, inova e se reconecta com sua própria natureza.

Fonte: Fapeam



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