PA: Quilombolas apostam em chocolate para impulsionar bioeconomia

 

Acima, João Neves, produtor de cacau da região. Fotos: Divulgação Instituto Amazônia 4.0

Por Luciana Bezerra

A tradicional produção de cacau da comunidade quilombola Moju-Miri, localizada no município de Moju, a 125 quilômetros de Belém, ganha um novo impulso com a chegada do Laboratório Criativo da Amazônia (LCA). A iniciativa do Instituto Amazônia 4.0, em parceria com a Associação de Moradores Quilombolas de Moju-Miri (AQMOMI), tem como objetivo fortalecer a cadeia produtiva local e gerar renda sustentável para as famílias agricultoras da região.

A fábrica móvel do LCA, formada por domos geodésicos adaptados ao clima amazônico, foi instalada a partir de um processo de escuta e diálogo com a comunidade local. Com início das atividades em 14 de abril e permanência prevista até 16 de maio, a estrutura vai além da produção de chocolate artesanal, propondo um modelo de desenvolvimento sustentável baseado nos saberes tradicionais da floresta. 

Estrutura da fábrica de chocolate na comunidade quilombola Moju-Miri.

O ConectaEco conversou com a presidente da AQMONI, Suely Cardoso e seu irmão, o produtor João Neves — figuras centrais no projeto — que vêm mobilizando moradores e mapeando insumos da floresta, para entender como a capacitação poderá impulsionar a cadeia produtiva do chocolate na comunidade.

De acordo com Suely, o projeto busca conectar os conhecimentos ancestrais da comunidade com a bioeconomia e a inovação tecnológica, abrindo novas perspectivas para o futuro da produção cacaueira na região. A expectativa é que a iniciativa fortaleça a economia local e promova o desenvolvimento sustentável da comunidade quilombola.

 “Esse laboratório é um sonho antigo que começa a acontecer. É uma oportunidade de gerar renda sem sair da nossa terra, respeitando nossas tradições e valorizando o que temos de mais rico: o conhecimento ancestral e nossos produtos”, enfatiza Cardoso.

A comunidade produz o chocolate tradicional e o cupulate, "primo" do chocolate que não contém cacau. 


Para João Neves, o trabalho desenvolvido pelo Instituto elevou o nível de conhecimento e empreendedorismo na região. 

“O conhecimento aplicado pelos professores do Instituto vai ampliar ainda mais a excelência da produção de chocolates em nossa comunidade”, afirma Neves.


Capacitação

A programação do LCA inclui formação técnica em manejo de cacau e cupuaçu, além de etapas como fermentação, secagem, torra, moagem e produção de chocolate no modelo 'tree-to-bar' (da árvore à barra). As atividades também abrangem aulas de gelateria tropical, gestão de negócios, marketing digital e introdução à inteligência artificial. O objetivo é preparar a comunidade para atuar em toda a cadeia produtiva e ampliar o acesso a novos mercados, com ênfase nas plataformas digitais.

O chocolatier César De Mendes, responsável pela formação técnica, destaca: 

"A gente precisa mostrar que a floresta em pé é mais rica que derrubada. Esse projeto dá condições reais para que a comunidade possa produzir com autonomia, com respeito à natureza e com valor agregado”, salienta Mendes.​

Para o diretor executivo do Instituto Amazônia 4.0, Ismael Nobre, o projeto marca uma virada estratégica.

"O LCA é crucial para comunidades amazônicas expressarem seu potencial produtivo e cultural em harmonia com a floresta. O chocolate, com tecnologia e capacitação, pode gerar renda e conectar consumidores ao território, apoiando a floresta e o clima", conclui.

O projeto conta ainda com o apoio de Luciene Gemaque, da comunidade ribeirinha Acará-Açu, ligada à iniciativa Guardiãs do Cacau, que integra a estratégia do Instituto Amazônia 4.0 de levar tecnologia para dentro da floresta, aliando inovação e valorização dos saberes tradicionais.

O cupulate é um produto 100% nacional produzido com a semente do cupuaçu, fruta amazônica. Foto: Vecteezy

Com foco na geração de renda e no fortalecimento de cadeias produtivas de base comunitária, o LCA busca oferecer alternativas econômicas sustentáveis em uma região marcada por desafios socioambientais. Em Moju-Miri, a bioeconomia se desenvolve no ritmo do cacau — com raízes fincadas no território e olhos voltados para o futuro.

O Pará lidera a produção nacional de cacau, respondendo por mais de 53% do total produzido no país. Fotos

Líder na produção de cacau

O Pará lidera a produção nacional de cacau, respondendo por mais de 53% do total produzido no país, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com uma produção de 145 mil toneladas na safra 2021/2022 e produtividade média de 977 quilos por hectare, quase o dobro da média nacional. Cerca de 70% dessa produção é realizada por agricultores familiares em áreas degradadas, utilizando sistemas agroflorestais que aliam preservação ambiental à geração de emprego e renda.

Cerca de 70% da produção de cacau é realizada por sistemas agroflorestais. Foto: Vecteezy

Um levantamento da Secretaria de Estado e Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Pará (Sedap) revela que Medicilândia, município da região do Xingu, se destaca como o principal produtor de cacau no estado. A cidade responde por mais de 44 mil toneladas anuais, representando 34,69% da produção paraense. Em segundo lugar, Uruará produz mais de 17 mil toneladas, cerca de 13% do total estadual. A lista dos maiores produtores segue com Anapu, Brasil Novo, Placas, Altamira, Vitória do Xingu, Senador José Porfírio, Tucumã e Pacajá.

Fonte: material produzido originalmente pelo ConectaEco com apoio da Ascom do Instituto Amazônia 4.0


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