Linus: A marca de sandálias que transformou a moda sustentável

 

Isabela Chusid, fundadora da Linus. Fotos: Divulgação Linus

Por Luciana Bezerra

Em um mercado ainda dominado por modelos tradicionais de consumo, a marca brasileira Linus vem quebrando paradigmas com sua proposta ousada de unir estilo, acessibilidade e sustentabilidade. Fundada por Isabela Chusid, a marca nasceu de uma necessidade pessoal e se transformou em referência nacional na moda consciente. 

O impacto da marca rendeu à fundadora uma nomeação no prêmio Cartier Women’s Initiative em 2024, reconhecimento global para mulheres empreendedoras. Com sandálias coloridas, veganas, recicláveis e de design atemporal, a Linus desafia padrões do mercado tradicional e mostra que moda pode – e deve – ser consciente, acessível e regenerativa.

O ConectaEco conversou com Isabela para entender como a Linus vem construindo essa trajetória de sucesso, os desafios enfrentados e o futuro da moda sustentável no Brasil.

 A marca oferece produtos com design minimalista, versátil e de baixo impacto ambiental.


ConectaEco: Como a Linus avalia o cenário da moda sustentável no Brasil atualmente?

Isabela Chusid: O Brasil tem avançado bastante. A conscientização dos consumidores cresceu e muitas marcas estão adotando práticas mais responsáveis. A transparência e a educação são fundamentais para acelerar essa transformação, e é isso que buscamos com a Linus: estimular escolhas mais conscientes.

CE: O país é visto como o “pulmão do mundo”, mas ainda está atrás em práticas sustentáveis. Como a Linus atua nesse contexto?

IC: O Brasil tem tudo para ser protagonista na sustentabilidade, mas ainda faltam incentivos. Apostamos em uma cadeia produtiva transparente, com materiais 100% recicláveis, veganos e sem plastificantes de origem animal. Moda sustentável, para nós, vai além dos materiais: é sobre repensar o consumo.

CE: Sustentabilidade ainda é vista como algo de luxo. Como a Linus quebra esse mito?

IC: Trabalhamos para mostrar que é possível oferecer produtos sustentáveis a preços justos. Produção local, design atemporal e durabilidade fazem com que nossas sandálias sejam um investimento inteligente – acessíveis e com impacto positivo.

"Sustentabilidade não é marketing, é compromisso real. Exige transparência e inovação em todas as etapas da produção", afirma.

CE: E o papel do governo nesse processo? Há avanços?

IC: Ainda vemos muitas lacunas. Incentivos fiscais, acesso a crédito e apoio à inovação são fundamentais. Fazemos nossa parte, mas políticas públicas bem estruturadas podem multiplicar o impacto de iniciativas como a nossa.

CE: Vocês já exploraram materiais da biodiversidade brasileira nas coleções?

IC: Sim, estamos constantemente pesquisando novas alternativas alinhadas aos nossos princípios. Queremos valorizar a biodiversidade com materiais que sejam sustentáveis, duráveis e confortáveis.

CE: Houve resistência por ser uma marca sustentável?

IC: Sim, houve ceticismo. Muitos diziam que sustentabilidade não vendia. Respondemos com resultados e transparência. Hoje, atraímos consumidores pelo design, conforto e, depois, pelos nossos valores.

CE: Como vocês mensuram o impacto ambiental?

IC: Utilizamos métricas como a intensidade de carbono, consumo de água e geração de resíduos. Temos certificações como o selo The Vegan Society e participamos do GHG Protocol — principal metodologia usada por empresas para contabilizar suas emissões de gases de efeito estufa. A transparência é um dos nossos pilares.

A Linus tem diversas lojas físicas, incluindo a Casa Linus (foto acima), quiosques e um Tuk Tuk.

CE: O consumidor brasileiro está mais consciente?

IC: Sem dúvida. As pessoas estão mais informadas e questionadoras. Isso influencia diretamente nossas decisões como marca e reforça nosso compromisso com a educação sobre consumo consciente.

CE: Existem ações com comunidades ou cooperativas para fortalecer a economia circular?

IC: Sim. A economia circular é essencial para reduzir o impacto ambiental da indústria da moda e criar um ciclo produtivo mais responsável. Entre as principais iniciativas, destaco a compensação de plástico e papéis feita em parceria com o Grupo Muda, trazendo benefícios sociais para os trabalhadores das cooperativas de baixa renda, em mais de 2.500 famílias.

CE: Que conselho você daria a marcas que querem ser mais sustentáveis?

IC: Comecem com propósito e consistência. Sustentabilidade não é marketing, é compromisso real. Exige transparência e inovação em todas as etapas da produção.

CE: A Linus também atua com educação ambiental?

IC: Sim. Um exemplo é o programa Caminho Delas, com o Instituto Reciclar, que conecta nossas profissionais a jovens mulheres de 16 a 24 anos em situação de vulnerabilidade, promovendo mentorias e desenvolvimento de habilidades profissionais.

CE: Como a Linus promove a liderança feminina?

IC: A maior parte da equipe é feminina, e criamos um ambiente seguro e colaborativo. Sabemos que mulheres na liderança tomam decisões mais sustentáveis – e queremos ser esse exemplo.

CE: Quais os maiores desafios em manter um negócio 100% sustentável no Brasil?

IC: A cadeia produtiva ainda não está preparada. Falta apoio, e os custos são altos. Superamos isso com criatividade, otimizando processos e buscando parcerias que respeitem nossos valores.

CE: E como funciona a logística reversa?

IC: Temos um programa de devolução em que as sandálias usadas são recicladas por parceiros especializados. Queremos fechar o ciclo e dar um novo destino aos produtos.

Além das famosas sandálias coloridas, a marca 100% brasileira também oferece outros acessórios.

CE: Quais são as metas da Linus para 2025?

IC: Expandir nossa presença no Brasil, consolidar a marca como referência em moda sustentável e continuar investindo em inovação e impacto positivo. Também teremos nossa segunda edição do Relatório de Sustentabilidade.

CE: Há planos para novos produtos ou mercados?

IC: Sim, mas sem perder nossa essência de lifestyle sustentável. Vamos continuar inovando com materiais e expandir nossa atuação com responsabilidade.

CE: E sobre parcerias ou investimentos?

IC: No momento, não buscamos investimentos. Queremos crescer de forma orgânica, alinhados com nossos valores.

CE: A Linus pensa em compartilhar sua tecnologia com outras marcas?

IC: Acreditamos que sustentabilidade precisa ser coletiva. Queremos impulsionar mudanças reais na indústria da moda e inspirar outras marcas a adotarem práticas mais responsáveis.

Fonte: material produzido originalmente pelo ConectaEco.


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