Cooperativismo: pilar do desenvolvimento sustentável na Amazônia

O Pirarucu pode atingir até 200 kg e 3 metros de comprimento. Foto: Adriano Gambarini | Asproc


Por Luciana Bezerra

O cooperativismo tem ganhado destaque global como um modelo econômico capaz de promover crescimento justo e inclusivo.

A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 2025 como o Ano Internacional do Cooperativismo, reconhecendo sua capacidade de transformar comunidades, gerar renda e contribuir para um mundo mais equilibrado. Com o tema "Cooperativas constroem um mundo melhor", a iniciativa reforça a importância desse modelo para o cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

No Brasil, as cooperativas desempenham um papel crucial no desenvolvimento de regiões remotas, promovendo inclusão socioeconômica e sustentabilidade. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que o Norte do país enfrenta desafios significativos, com 7,7% dos lares sofrendo com a fome em 2023 e 38,5% da população vivendo na pobreza. Nesse contexto, o cooperativismo se destaca ao gerar oportunidades e fortalecer a economia local.

A analista técnica de Sustentabilidade do Sistema OCB, Laís Nara Castro, enfatiza os benefícios do modelo cooperativista:


"As cooperativas garantem aos seus cooperados acesso a insumos de qualidade, tecnologias modernas, assistência técnica, soluções de armazenagem e canais eficientes de comercialização, assegurando viabilidade econômica", afirma Laís.

O ConectaEco conversou, nesta quarta-feira (26/02), com representantes de duas cooperativas na Amazônia que estão transformando a realidade das comunidades locais.

Castanha e Bioeconomia

Um exemplo de sucesso no setor é a Cooperativa Mista dos Produtores e Extrativistas do Rio Iratapuru (Comaru), que atua na região sul do Amapá. Com 105 cooperados, a organização foca na produção e comercialização da castanha-do-brasil, principal produto não madeireiro da Amazônia e fonte de renda para muitas famílias extrativistas. O trabalho realizado é fundamental para a preservação da floresta e para a valorização dos povos tradicionais.

Foto: Vecteezy

A cooperativa foi fundada em 1992 com o objetivo de fortalecer os castanheiros da Comunidade São Francisco do Iratapuru, garantindo melhores preços e maior reconhecimento no mercado. Além disso, investe na capacitação dos extrativistas para que adotem técnicas sustentáveis e promovam a conservação da biodiversidade.

"Nós oferecemos todo o suporte para nossos cooperados, dando orientações sobre cadeia produtiva, rastreabilidade e qualidade do produto. Também apoiamos nossos membros em questões de saúde e fornecemos equipamentos para facilitar o trabalho", afirma Aldemir Pereira, diretor administrativo da Comaru.

Extrativismo Sustentável

Outro exemplo de cooperativismo aliado à sustentabilidade é a Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), no Médio Juruá, no Amazonas, que tem se destacado como um modelo eficaz de conservação ambiental e geração de renda para comunidades ribeirinhas. Atualmente, mais de 700 famílias são beneficiadas pelo projeto.

A Asproc, criada em 1991, lidera iniciativas que unem proteção da biodiversidade e desenvolvimento social. Por meio do manejo sustentável do pirarucu, peixe símbolo da Amazônia, as comunidades têm garantido a preservação dos estoques pesqueiros e a segurança alimentar, enquanto ampliam suas fontes de renda.

Em 2023, o projeto monitorou 185 ambientes, contabilizando mais de 53 mil pirarucus e gerando uma renda de R$ 2 milhões para 321 famílias. Em 2024, a pesca manejada atingiu 61% de eficiência, fortalecendo a gestão sustentável dos recursos e beneficiando 216 famílias de 44 comunidades e Terras Indígenas.

De acordo com Ana Alice Britto, coordenadora da Asproc, o manejo do pirarucu, realizado entre setembro e novembro, ocorre em áreas de conservação sob normas rigorosas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para evitar a pesca ilegal. 

"Esse modelo de economia solidária não só fortalece a organização comunitária, mas também promove a conservação da Floresta Amazônica, reforçando a importância das práticas sustentáveis na região", afirma Ana Alice.

Além do impacto ambiental, o extrativismo sustentável tem impulsionado políticas públicas e inovações comerciais. A Asproc desenvolveu a marca coletiva "Gosto da Amazônia", que aproxima a gastronomia do manejo sustentável, ampliando a venda do pirarucu para o Brasil e outros países como Singapura e China. 

Em 2024, a associação obteve a certificação Fair Trade USA para o pirarucu de manejo. Segundo Brasilo, representa um marco fundamental para a pesca sustentável na Amazônia, validando a importância social, ecológica e comercial do manejo comunitário da espécie.


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