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No Brasil, cerca de 720 milhões de canudos são descartados diariamente. Fotos: Vecteezy |
Por Luciana Bezerra
Semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma medida polêmica ao permitir o retorno dos canudos plásticos descartáveis no mercado americano, revertendo esforços globais para reduzir o impacto ambiental desses produtos. Os EUA, um dos maiores produtores mundiais de plástico, consomem cerca de 500 milhões de canudos diariamente, o que eleva preocupações sobre os efeitos devastadores dessa decisão para o meio ambiente. Enquanto especialistas alertam para as consequências sem precedentes dessa medida, espera-se que o Brasil não siga o mesmo caminho, mantendo o compromisso com políticas sustentáveis e a proteção ambiental.
Os canudos de plástico, aparentemente inofensivos, têm se tornado um dos maiores inimigos do meio ambiente. Estima-se que, apenas no Brasil, cerca de 720 milhões de canudos sejam descartados diariamente, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Esses resíduos, que são usados por poucos minutos, podem levar até 500 anos para se decompor, acumulando-se em aterros sanitários e, muitas vezes, chegando aos oceanos.
Dados relevantes
O impacto ambiental desses pequenos objetos é alarmante. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), os canudos estão entre os 10 itens mais encontrados em limpezas de praias em todo o mundo. No Brasil, a situação não é diferente. Um estudo realizado pelo Instituto Oceanográfico da USP revelou que 95% do lixo coletado nas praias brasileiras é composto por plásticos, incluindo canudos. Esses resíduos não só poluem as águas, mas também colocam em risco a vida marinha, que frequentemente os confunde com alimento.
Especialistas brasileiros têm alertado para a urgência de mudanças. "O canudo de plástico é um símbolo do consumo desenfreado e da falta de responsabilidade ambiental. Precisamos repensar nossos hábitos e buscar alternativas sustentáveis", afirma Maria Fernanda Gatti, bióloga e pesquisadora em conservação marinha. Ela destaca que, embora pareça um gesto pequeno, a substituição por canudos reutilizáveis ou biodegradáveis pode gerar um impacto significativo a longo prazo.
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Canudos estão entre os 10 itens mais achados durante a limpeza de praias no mundo, segundo a ONU |
Apesar de algumas iniciativas positivas, como a lei municipal de São Paulo, que proíbe o uso de canudos plásticos em estabelecimentos comerciais desde 2019, a implementação ainda enfrenta desafios. "A legislação é um avanço, mas falta fiscalização e conscientização. Muitos lugares ainda distribuem canudos plásticos sem oferecer alternativas", comenta Carlos Silva, especialista em políticas ambientais. Ele ressalta que a educação ambiental é fundamental para que as mudanças sejam efetivas.
Enquanto isso, o mercado de canudos sustentáveis cresce, mas ainda representa uma fração mínima do setor. Dados da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) mostram que apenas 5% dos canudos produzidos no país são biodegradáveis. A solução, portanto, vai além da substituição do produto: exige uma mudança cultural. Como afirma Marina Gurgel, ativista ambiental, "o canudo é só a ponta do iceberg. Precisamos repensar todo o nosso consumo de plástico para proteger o planeta".